Campo Grande News - 31/10/2014
A fachada chama atenção pelas caixas de correio com detalhes coloridos e figuras de dois galos, em azul e branco. Um cuidado na paisagem que alegra a entrada do edifício José Ferreira Rosa, o nome do dono do imóvel, levantado há mais de seis décadas na rua Antônio Maria Coelho, entre a Calógeras e a 14 de Julho. Na correria, pode até passar despercebido, mas com um pouco de sensibilidade dá para perceber o carinho com cada detalhe na porta vermelha, com desenhos em verde, branco, azul e amarelo, inspiração que veio de Portugal.
O lugar exala cultura em cada detalhe. Não é para menos, quem mora ali é a escritora e professora Maria da Glória Sá Rosa, a Glorinha, uma das maiores incentivadoras da produção artística sul-mato-grossense. As cores nas caixas de correio, por exemplo, foram escolhidas pelo artista plástico Jonir Figueiredo, amigo da dona da casa.
Sempre que é procurada, Glorinha conta a história de Mato Grosso do Sul e de Campo Grande, mas agora vai falar da morada que dividiu com o marido por 56 anos, até a morte dele em 2008.
O prédio é de 1954 e carrega com ele não só o passado, tem também a alma da moradora e as lembranças de quem já passou por ali.
Na entrada do apartamento, a porta de madeira indica a participação de outros 2 ícones das artes por aqui. É as boas vindas para quem chega ao "Ateliê da Glorinha". O portal foi feito por Elias Andrade, o Índio, e a porta tem o desenho de Ilton Silva, todos representando imagens que remetem ao Pantanal.
Em uma das portas há um espaço só para os recados e mensagens, mas que há muito tempo não engolem qualquer papel.
Na sala, muito lembra os anos 60 e 70, a começar pelos lustres, escolhidos por Humberto Espíndola, outro privilégio para uma pessoa com tantos amigos ilustres. "Muita gente deu pitaco aqui", lembra Glorinha.
Mas o principal colaborador é o filho, que sempre traz alguma relíquia ou referência. “Uma casa é o seu habitat, se não tem alma é porque você é árido. Não adianta ter carro, dinheiro e não ter cultura. Na casa de muitos políticos que visito, não tem um livro na parede”, diz José Carlos Ferreira Rosa, de 62 anos, filho de Glorinha e responsável por muito do que é visto no apartamento.
Ele herdou de Glorinha a paixão pelas viagens e por conhecer pessoas e culturas diferentes. Viveu quinze anos fora do Brasil, na Alemanha, Itália, Suíça. Conheceu muitos países ao redor do mundo. Das experiências, trouxe ideias e recordações para a casa da mãe.
“Na entrada, tive a ideia de colocar os azulejos árabes, fazer o jardim austríaco para ter flores. Pelos lugares que eu passava, eu sempre pensava em algumas coisas que eu poderia colocar na casa da minha mãe, que também gosta de cultura. Não vejo esse tipo de coisa em Campo Grande”, compara.
Os painéis de azulejos, feitos em Parati (RJ), estão em vários espaços, desde o numeral da fachada, e lembram o gosto do filho Boaventura, já falecido, que era músico.
Nos fundos, eles também demarcam o território da churrasqueira no quintal que costumava reunir artistas para festas e debates sobre cultura. "Era um tempo muito animado, de reuniões e muita gente aqui", lembra José Carlos.
Bom filho, apesar de morar no Rio, ele sempre volta para ficar um tempo em Campo Grande e cuidar da mãe, que também tem a companhia de outro filho, médico, e do neto.
Glorinha, aos 87 anos, nos recebeu 2 vezes nesta semana, sempre com um sorriso e a atenção de quem já está acostumada a conceder entrevistas para falar sobre a trajetória fundamental para a educação, cultura e história do Estado.
Para ela, a casa, que inclui o térreo e o 1º andar, já não é mais a mesma por conta do desgaste físico que as escadas representam hoje. "Mas minha médica disse que é bom, para eu fazer exercícios", lembra. Mesmo com problema na coluna e o auxílio de uma bengala, ela não se intimida na rotina de descer e subir até 3 vezes ao dia aquela escadaria enorme. "Hoje mesmo vou ao médico e depois, à noite, vou para a Academia de Letras", conta.
No quarto, o relaxamento vem com a rede, coisa de Nordeste, terra natal de Glorinha. "Aqui é onde eu leio", explica, mostrando a obra do momento, o livro "Clarisse".
As paredes da casa são recheadas de obras de arte de artistas como Jorapimo, Inês Corrêa da Costa, Humberto Espíndola, Terezinha Neder... As prateleiras, cheias de lembrança, mostram os lugares que já foram visitados. São centenas de bibelôs com a nostalgia dando o brilho. Há aparelhos de som antigos, almofadas da Índia, tapetes do Paquistão, esculturas da Tailândia e os “nossos” Bugres da Conceição.
Mas para Glorinha, o que mais tem valor são as fotos no porta-retrato. "Aproximam a minha família. Não tem preço", justifica.
Um dos cantos preferidos é a biblioteca, com estantes até o teto, feitas em madeira escura, assim que a família chegou ao apartamento. "Chamei 2 bibliotecárias para catalogar na época e depois o marceneiro ainda ampliou", conta. A cadeira da década de 80 foi outro presente e, apesar do design que nos dias de hoje vale muito dinheiro, para ela a única vantagem é o conforto.
São incontáveis as obras e elas se estendem pelos outros espaços da casa. Ganham estantes especiais em cada cômodo. Para quem aprecia arte e literatura, o apartamento, por si só, já carrega uma aura encantadora.
Quando José Carlos propôs imprimir tal identidade ao imóvel, a intenção era garantir um lugar acolhedor, com uma energia para aventureiro nenhum botar defeito. “Eu me projetei na minha mãe, ela é a minha grande mentora espiritual e cultural, se eu sou quem sou é por causa dela”, declara o filho.
O lugar exala cultura em cada detalhe. Não é para menos, quem mora ali é a escritora e professora Maria da Glória Sá Rosa, a Glorinha, uma das maiores incentivadoras da produção artística sul-mato-grossense. As cores nas caixas de correio, por exemplo, foram escolhidas pelo artista plástico Jonir Figueiredo, amigo da dona da casa.
Sempre que é procurada, Glorinha conta a história de Mato Grosso do Sul e de Campo Grande, mas agora vai falar da morada que dividiu com o marido por 56 anos, até a morte dele em 2008.
O prédio é de 1954 e carrega com ele não só o passado, tem também a alma da moradora e as lembranças de quem já passou por ali.
Na entrada do apartamento, a porta de madeira indica a participação de outros 2 ícones das artes por aqui. É as boas vindas para quem chega ao "Ateliê da Glorinha". O portal foi feito por Elias Andrade, o Índio, e a porta tem o desenho de Ilton Silva, todos representando imagens que remetem ao Pantanal.
Em uma das portas há um espaço só para os recados e mensagens, mas que há muito tempo não engolem qualquer papel.
Na sala, muito lembra os anos 60 e 70, a começar pelos lustres, escolhidos por Humberto Espíndola, outro privilégio para uma pessoa com tantos amigos ilustres. "Muita gente deu pitaco aqui", lembra Glorinha.
Mas o principal colaborador é o filho, que sempre traz alguma relíquia ou referência. “Uma casa é o seu habitat, se não tem alma é porque você é árido. Não adianta ter carro, dinheiro e não ter cultura. Na casa de muitos políticos que visito, não tem um livro na parede”, diz José Carlos Ferreira Rosa, de 62 anos, filho de Glorinha e responsável por muito do que é visto no apartamento.
Ele herdou de Glorinha a paixão pelas viagens e por conhecer pessoas e culturas diferentes. Viveu quinze anos fora do Brasil, na Alemanha, Itália, Suíça. Conheceu muitos países ao redor do mundo. Das experiências, trouxe ideias e recordações para a casa da mãe.
“Na entrada, tive a ideia de colocar os azulejos árabes, fazer o jardim austríaco para ter flores. Pelos lugares que eu passava, eu sempre pensava em algumas coisas que eu poderia colocar na casa da minha mãe, que também gosta de cultura. Não vejo esse tipo de coisa em Campo Grande”, compara.
Os painéis de azulejos, feitos em Parati (RJ), estão em vários espaços, desde o numeral da fachada, e lembram o gosto do filho Boaventura, já falecido, que era músico.
Nos fundos, eles também demarcam o território da churrasqueira no quintal que costumava reunir artistas para festas e debates sobre cultura. "Era um tempo muito animado, de reuniões e muita gente aqui", lembra José Carlos.
Bom filho, apesar de morar no Rio, ele sempre volta para ficar um tempo em Campo Grande e cuidar da mãe, que também tem a companhia de outro filho, médico, e do neto.
Glorinha, aos 87 anos, nos recebeu 2 vezes nesta semana, sempre com um sorriso e a atenção de quem já está acostumada a conceder entrevistas para falar sobre a trajetória fundamental para a educação, cultura e história do Estado.
Para ela, a casa, que inclui o térreo e o 1º andar, já não é mais a mesma por conta do desgaste físico que as escadas representam hoje. "Mas minha médica disse que é bom, para eu fazer exercícios", lembra. Mesmo com problema na coluna e o auxílio de uma bengala, ela não se intimida na rotina de descer e subir até 3 vezes ao dia aquela escadaria enorme. "Hoje mesmo vou ao médico e depois, à noite, vou para a Academia de Letras", conta.
No quarto, o relaxamento vem com a rede, coisa de Nordeste, terra natal de Glorinha. "Aqui é onde eu leio", explica, mostrando a obra do momento, o livro "Clarisse".
As paredes da casa são recheadas de obras de arte de artistas como Jorapimo, Inês Corrêa da Costa, Humberto Espíndola, Terezinha Neder... As prateleiras, cheias de lembrança, mostram os lugares que já foram visitados. São centenas de bibelôs com a nostalgia dando o brilho. Há aparelhos de som antigos, almofadas da Índia, tapetes do Paquistão, esculturas da Tailândia e os “nossos” Bugres da Conceição.
Mas para Glorinha, o que mais tem valor são as fotos no porta-retrato. "Aproximam a minha família. Não tem preço", justifica.
Um dos cantos preferidos é a biblioteca, com estantes até o teto, feitas em madeira escura, assim que a família chegou ao apartamento. "Chamei 2 bibliotecárias para catalogar na época e depois o marceneiro ainda ampliou", conta. A cadeira da década de 80 foi outro presente e, apesar do design que nos dias de hoje vale muito dinheiro, para ela a única vantagem é o conforto.
São incontáveis as obras e elas se estendem pelos outros espaços da casa. Ganham estantes especiais em cada cômodo. Para quem aprecia arte e literatura, o apartamento, por si só, já carrega uma aura encantadora.
Quando José Carlos propôs imprimir tal identidade ao imóvel, a intenção era garantir um lugar acolhedor, com uma energia para aventureiro nenhum botar defeito. “Eu me projetei na minha mãe, ela é a minha grande mentora espiritual e cultural, se eu sou quem sou é por causa dela”, declara o filho.
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