RIO - Ela abriga relíquias como partituras originais das óperas de Carlos Gomes, manuscritos sobre a administração colonial no Brasil e a primeira edição de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, de 1572, entre outros importantes registros históricos e artísticos. Mas foi por causa de sua arquitetura eclética, baseada em projetos franceses de meados do século XIX, que em 1973 a Biblioteca Nacional foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Apesar disso, a burocracia estatal tem impedido a realização de reformas emergenciais. Na quarta-feira, servidores da biblioteca fizeram uma manifestação nas escadarias da instituição, no Centro, para cobrar obras urgentes para os males que afligem o prédio: goteiras, paredes rachadas, periódicos destruídos por uma inundação em maio, ratos e baratas. Ainda segundo os manifestantes, com o ar-condicionado desligado há cerca de três meses, o calor ultrapassa os 40 graus.
Última grande reforma nos anos 80
Em outubro, o prédio vai completar 112 anos. A direção da Fundação Biblioteca Nacional diz que não tem poupado esforços para arrumar a casa, embora a última grande reforma tenha sido feita na década de 1980. Como noticiou ontem o jornalista Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, a FBN firmou contrato para a troca do sistema de ar-condicionado, desligado desde maio, quando uma avaria causou a inundação de quatro dos seis andares do armazém de periódicos e a destruição de boa parte do acervo. Vários outros projetos estão em andamento, de acordo com a assessoria de comunicação da instituição. Além disso, no início deste mês, foi concluída a instalação de um sistema de detecção de alarme de incêndio.
Na quarta-feira, cerca de 50 manifestantes levaram um bolo com muitas velas para a escadaria da biblioteca, na Avenida Rio Branco, para celebrar, de forma irônica — conforme o texto lido pelos funcionários no local —, o “aniversário das baratas que infestam todo o prédio, com destaque para seu ‘berçário’, no quinto andar; das pragas que gostam muito de papel; brocas, traças e cupins, que ameaçam permanentemente o acervo; dos ratos do primeiro andar”. Outro problema apontado durante a manifestação é o excesso de peso exercido sobre a estrutura do prédio.
— Ficamos muito apreensivos após o desabamento dos prédios na Avenida Treze de Maio (que aconteceu em janeiro deste ano). Ainda mais quando sabemos que há uma sobrecarga de peso do acervo na Biblioteca Nacional. O prédio foi construído com capacidade para abrigar 800 mil volumes. Hoje, há mais de nove milhões de volumes. E a média de recepção é de cem mil por ano. A situação é resultado de décadas de abandono e deterioração — criticou Lia Jordão, vice-presidente da Associação dos Servidores da Biblioteca Nacional, que organizou a manifestação realizada ontem.
Vários tapumes metálicos cercam o prédio da biblioteca. O objetivo é impedir que pedestres se aproximem demais do imóvel e corram o risco de se ferir com pedaços de reboco que possam cair.
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