A cultura e a sustentabilidade andam juntas em Canoas, onde desde março de 2012 um grupo formado por 18 pessoas têm disseminado a leitura em 25 famílias que não têm acesso a bens e serviços culturais, usando como meio de transporte a bicicleta. A troca de experiências da Ação do Plano do Livro, Leitura e Literatura do Município servirá de base para um programa, a ser lançado pelo Ministério da Cultura (MinC) e Secretaria de Estado da Cultura, que disponibilizará 220 agentes de cultura em dez territórios da Paz e foi o mote da oficina Pedalando com Agentes de Leitura de Canoas, realizada na manhã desta sexta (22), na programação do Fórum da Bicicleta. Na Casa de Cultura Mario Quintana, estavam presentes o secretário-adjunto da Cultura, Jéferson Assumção, a gestora de Livro, Leitura e Literatura de Canoas, Andrea Falkenberg e a gerente da equipe de agentes, Alba Valéria Brito do Rego, entre outros.
A iniciativa consiste no empréstimo de livros e realização de rodas de leituras em casas, escolas e bibliotecas, além de praças e eventos, especialmente nos locais de difícil acesso, abrangendo todas as faixas etárias e outras modalidades artísticas, como música, dança e malabares. “Está sendo aberto edital para contratação de novos agentes no projeto, que abriga 44 profissionais, e visa atingir mil famílias quando o quadro estiver completo”, diz Alba. Ela afirma que, ao chegarem nos bairros, as crianças correm, gritando que “os tios do livro chegaram” e que elas respondem perguntas acerca do conteúdo, o que comprova que realmente leram. “É bacana ver a criança ter este gosto, que estamos incutindo”, diz.
Diversos tipos de publicação são usados, de nomes como Carlos Urbim, Moacyr Scliar e George Orwell, e o público, inicialmente de baixa renda, foi se expandindo. Os visitantes não se prendem a tempo, atuando conforme a disponibilidade da família atendida, e servindo muitas vezes de elemento de integração entre seus membros, nos raros momentos em que estão juntos. “Tem uma família de carroceiros, que vive da reciclagem, que recebeu a gente muito bem, no meio do lixo e achou a atividade legal”, relata o agente Odair Fonseca de Souza. Ele considera como dificuldade maior da tarefa, o fato de não saberem o que vão esperar, como uma vez em que um bêbado o atendeu e no final acabou chorando.
O cinegrafista e ator Arthur Fernandes Côrtes é outro integrante da equipe, que utiliza artefatos cênicos para ilustrar suas contações, com abertura e encerramento repleto de brincadeiras e malabares. Com seu visual descontraído e adepto da ideia de que devemos largar a TV de lado e sair da frente do computador, fala de um senhor desconfiado, que estava com muito medo da abordagem. “Reclamou da falta de segurança e disse que este governo era muito estranho ao enviar um cabeludo me mandando ler”, ri. Os laços entre os agentes foi ficando tão forte que resultou em um grupo teatral, o Gatos Pingados, que em abril estreia O Cabra que Amava Roberto Carlos.
Em sua fala, Jéferson Assumção afirmou que para termos um país de leitores, além do acesso ao livro, precisamos ter famílias de leitores, com leitura dentro das casas. Especialmente nas que não tenham este hábito. “O legal é mostrar a relação da questão do transporte: a bicicleta não é só lazer, aqui ela serve para os agentes levarem os livros até estas casas. Hoje, na discussão sobre a mobilidade nos centros urbanos, a bicicleta é uma opção de transporte cotidiano, uma forma das pessoas se relacionarem com a cidade de forma sustentável”, conclui o ex-secretário de cultura de Canoas.