segunda-feira, 18 de março de 2013

ESPIÃO URUGUAIO PODE DESVENDAR MISTÉRIO DE AGENTE DUPLO DA DITADURA


Homem de confiança de Carlos Lamarca, Gilberto Faria Lima atuou na guerrilha urbana e teria colaborado com a ditadura; ele está desaparecido desde então, mas pode estar vivo

Documentos encontrados no Arquivo Nacional, em Brasília, levantam a suspeita de que Gilberto Faria Lima, dado como desaparecido há 40 anos, um dos militantes da esquerda armada com mais ações no currículo, pode ter sido um agente duplo e estar vivo. Um relatório dos órgãos de informação militares liga Faria Lima ao uruguaio Alberto Octavio Conrado Avegno, apontado pelas comissões que investigam os anos de chumbo como maior espião infiltrado junto aos grupos de brasileiros exilados no Chile, Argentina e Uruguai.

Filho do diplomata brasileiro Otávio Conrado, o espião atuou de 1967 a 1980, infiltrou-se nas organizações de esquerda, conseguiu enganar personagens como Leonel Brizola, Miguel Arraes e o Almirante Cândido Aragão e, assim, entregou ao Centro de Informações da Marinha (Cenimar) e ao Itamaraty informações que resultaram em dezenas de prisões e mortes no Brasil e no exterior.


Gilberto Faria Lima, o Zorro, estava entre os procurados por agentes do regime militar

Numa operação que chamou de “Missão no Brasil”, relatada em 21 páginas, Conrado diz que o brasileiro foi o elo com os grupos de esquerda. “Fizemos o primeiro contato em São Paulo através do endereço fornecido por Gilberto Faria Lima”, conta Conrado, que usa o codinome de Johnson, embora na maioria dos informes listados num dossiê de 812 páginas se apresente como Altair.
Conrado recebia salário mensal dos órgãos de informação do regime militar para espionar. Antes de viajar para o Brasil, entre setembro e agosto de 1972, diz que esteve pessoalmente com Faria Lima, no Chile. Ele revela que, “seguindo as instruções de Carlos” (codinome de Faria Lima), encontrou-se com vários militantes do PCB em São Paulo e no Rio, usando como álibi cartas escritas por Faria Lima cujos originais estão anexados no dossiê.
Na guerrilha, Faria Lima usou pelo menos oito codinomes, mas era mais conhecido entre os companheiros por Zorro ou Giba. Com 16 ações armadas de alta envergadura no prontuário preenchido pelo Dops paulista – entre elas os assassinatos do ex-presidente do Grupo Ultra Henning Albert Boilesen e do tenente da PM Alberto Mendes Júnior –, Zorro chegou a ser condenado à pena de morte, lei que vigorou no Brasil durante o AI-5, entre 1969 e 1978. A pena capital, aplicável com fuzilamento, foi convertida em prisão perpétua e, mais tarde, numa condenação de cinco anos de reclusão, anulada pela Lei da Anistia.
O longo histórico de ações armadas listadas pelo Dops no currículo do ex-guerrilheiro teria sido o primeiro capítulo da faceta desconhecida de Zorro. Ele era linha de frente da guerrilha urbana e foi um dos homens de confiança de um dos principais líderes da resistência armada, o capitão Carlos Lamarca.



Um informe dos órgãos de espionagem aponta que, ao lado de outros militantes, teria participado de um encontro com Fidel Castro no Chile, no qual se discutiram ações subversivas no Brasil, como um plano de sabotagem para parar a Rodovia Presidente Dutra por onde, à época, escoava boa parte da economia do País.
Zorro foi militante de três organizações envolvidas na luta armada, a Resistência Democrática (Rede), a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), mas atuou também em ações conjuntas com a Ação Libertadora Nacional (ALN). Eram os grupos mais radicais e, por isso, caçados incessantemente pela repressão.
A esquerda sempre trabalhou com a hipótese de que Zorro pudesse ter sido cooptado pelos órgãos de repressão, mas guardou suas suspeitas até que as evidências se tornassem mais claras. “O comportamento dele em algumas ações sempre deixou dúvidas”, diz o jornalista, ativista e coordenador da Comissão da Verdade paulista, Ivan Seixas , companheiro de Zorro em várias ações, como assaltos a banco (a esquerda chama de expropriação) pelo MRT.
Preso aos 16 anos junto com o pai, Joaquim Alencar Seixas – operário comunista morto na tortura –, Ivan não era só parceiro de Faria Lima no MRT. Eles foram amigos. Ele acredita, no entanto, que o difícil é concluir se Zorro foi infiltrado pelos órgãos de repressão ou mudou de lado ao cair nas mãos da polícia. 

EX-ESTUDANTE DEVOLVE LIVRO À BIBLIOTECA DEPOIS DE 51 ANOS. MULTA CHEGA A R$ 5.300


Escritor de livros de arte devolveu o material depois que governo perdoou a dívida

Quando estudante, o escocês David Black, pegou um livro emprestado na Biblioteca de Edimburgo, capital do país, em 1962. Mais de 50 anos depois, o livro voltou às estantes da biblioteca.

A multa pelo atraso na devolução do livro chegou a R$ 5.423,88 (£ 2.762,55), mas Black foi informado de que a prefeitura da cidade estava dando anistia a quem estivesse com altas cobranças nas bibliotecas.


— Quando li sobre a anistia das multas, decidi devolver o livro, de uma vez por todas, só para ver a cara do bibliotecário. É boa a sensação de devolvê-lo depois de todos esses anos.

O estudioso de arte e escritor, que alugou o título sobre artista espanhol Goya, conta que se lembrou várias vezes de devolver o material da biblioteca no decorrer dos anos, mas sempre se esquecia.

— Até assisti a uma peça, há dois anos, na qual o bibliotecário procura quem devolveu um título atrasado há 113 anos.

Mas apesar de tantos anos para ser devolvido à biblioteca escocesa, David Black não foi o recordista do atraso. Em 2011, um livro foi devolvido à Biblioteca de Edimburgo 123 anos após ser retirado.

AGENTES LEVAM LEITURA AOS LARES UTILIZANDO A BICICLETA


A cultura e a sustentabilidade andam juntas em Canoas, onde desde março de 2012 um grupo formado por 18 pessoas têm disseminado a leitura em 25 famílias que não têm acesso a bens e serviços culturais, usando como meio de transporte a bicicleta. A troca de experiências da Ação do Plano do Livro, Leitura e Literatura do Município servirá de base para um programa, a ser lançado pelo Ministério da Cultura (MinC) e Secretaria de Estado da Cultura, que disponibilizará 220 agentes de cultura em dez territórios da Paz e foi o mote da oficina Pedalando com Agentes de Leitura de Canoas, realizada na manhã desta sexta (22), na programação do Fórum da Bicicleta.  Na Casa de Cultura Mario Quintana, estavam presentes o secretário-adjunto da Cultura, Jéferson Assumção, a gestora de Livro, Leitura e Literatura de Canoas, Andrea Falkenberg e a gerente da equipe de agentes, Alba Valéria Brito do Rego, entre outros.
A iniciativa consiste no empréstimo de livros e realização de rodas de leituras em casas, escolas e bibliotecas, além de praças e eventos, especialmente nos locais de difícil acesso, abrangendo todas as faixas etárias e outras modalidades artísticas, como música, dança e malabares. “Está sendo aberto edital para contratação de novos agentes no projeto, que abriga 44 profissionais, e visa atingir mil famílias quando o quadro estiver completo”, diz  Alba. Ela afirma que, ao chegarem nos bairros, as crianças correm, gritando que “os tios do livro chegaram” e que elas respondem perguntas acerca do conteúdo, o que comprova que  realmente leram. “É bacana ver a criança ter este gosto, que estamos incutindo”, diz.
Diversos tipos de publicação são usados, de nomes como Carlos Urbim, Moacyr Scliar e George Orwell, e o público, inicialmente de baixa renda, foi se expandindo. Os visitantes não se prendem a tempo, atuando conforme a disponibilidade da família atendida, e servindo muitas vezes de elemento de integração entre seus membros, nos raros momentos em que estão juntos. “Tem uma família de carroceiros, que vive da reciclagem, que recebeu a gente muito bem, no meio do lixo e achou a atividade legal”, relata o agente Odair Fonseca de Souza. Ele considera como dificuldade maior da tarefa, o fato de não saberem o que vão esperar, como uma vez em que um bêbado o atendeu e no final acabou chorando.
O cinegrafista e ator Arthur Fernandes Côrtes é outro integrante da equipe, que utiliza artefatos cênicos para ilustrar suas contações, com abertura e encerramento repleto de brincadeiras e malabares. Com seu visual descontraído e adepto da ideia de que devemos largar a TV de lado e sair da frente do computador, fala de um senhor desconfiado, que estava com muito medo da abordagem. “Reclamou da falta de segurança e disse que este governo era muito estranho ao enviar um cabeludo me mandando ler”, ri. Os laços entre os agentes foi ficando tão forte que resultou em um grupo teatral, o Gatos Pingados, que em abril estreia O Cabra que Amava Roberto Carlos.
Em sua fala, Jéferson Assumção afirmou que para termos um país de leitores, além do acesso ao livro, precisamos ter famílias de leitores, com leitura dentro das casas. Especialmente nas que não tenham este hábito. “O legal é mostrar a relação da questão do transporte: a bicicleta não é só lazer, aqui ela serve para os agentes levarem os livros até estas casas. Hoje, na discussão sobre a mobilidade nos centros urbanos, a bicicleta é uma opção de transporte cotidiano, uma forma das pessoas se relacionarem com a cidade de forma sustentável”, conclui o ex-secretário de cultura de Canoas.

ESPAÇOS RICOS EM LEITURA E CULTURA


Quiosques existentes em Passo Fundo são importantes espaços para a formação de leitores que estão ao alcance da comunidade.

Os quiosques de leitura Roberto Pirovano Zanatta e o do Largo da Literatura de Passo Fundo são espaços mágicos. Qualquer pessoa que visita os quiosques é contagiada pela magia que só os livros proporcionam na vida de uma pessoa. Além do acervo de livros, estes locais disponibilizam revistas, jornais, computadores, internet e atividades como contação de histórias. Espaços de acesso a leitura e a cultura.

Os livros ficaram mais próximos da comunidade passo-fundense após a implantação do Quiosque localizado no Largo da Literatura em 2009,  na praça Armando Sbeghen, e do Quiosque Roberto Pirovano Zanatta em 2011, na praça Antonino Xavier e Oliveira. Os pontos de leitura também ajudam a enfatizar e honrar o título de Capital Nacional da Literatura.

A coordenadora da Universidade Popular (UP/SME), Nalú Cordeiro de Mello, explicou que os quiosques fazem parte dos programas de formação cultural e formação de leitores da UP. Serão desenvolvidas nestes espaços diversas atividades relativas a 15ª Jornada Nacional de Literatura, através de parcerias entre a UP e instituições públicas e privadas. “As atividades nos quiosques, juntamente com outro conjunto de ações, têm o intuito de despertar o gosto pela leitura, a valorização das diversas formas de leitura e a interação do sujeito leitor com o mundo, contribuindo assim para a formação de leitores e pessoas com autonomia no pensar e agir”, declarou Nalú.

A diretora do Núcleo do Livro, Leitura e Literatura, Suzana Einloft Salles, apesar destes locais realizarem um trabalho semelhante ao da Biblioteca Pública de empréstimo de livros, os quiosques têm um “plus” a mais. “Estes espaços de leitura estão localizados em pontos estratégicos e históricos para que a comunidade perceba a leitura como algo próximo e prazeroso acessível a todos os públicos”, declarou Suzana.

Os locais também possuem uma agenda permanente de contação de história, atividades lúdicas e de apresentação dos quiosques. As escolas e instituições interessadas precisam entrar em contato com os quiosques ou UP para acertar a data e horário. O empréstimo de obras é feito mediante um cadastro. Para este serviço é necessário a apresentação de comprovante de residência e documento pessoal. “Qualquer pessoa pode visitar estes espaços. A pessoa pode ler jornal, revista, fazer pesquisas, pegar livros”, enfatizou a diretora do Núcleo do Livro, Leitura e Literatura.

Quiosque do Largo da Literatura
Este ponto de leitura foi inaugurado em 26 de outubro de 2009 e foi possível através de um projeto do Ministério da Cultura de fomento à leitura. Na época, como prêmio foram entregues R$ 20 mil em acervo de 650 livros, mobiliário, almofadas, puffs e computador.  O quiosque abrange livros, revistas, jornais e computadores com acesso à internet. O espaço também oferece empréstimo de livros.

Quiosque Roberto Pirovano Zanatta
Este espaço público de leitura, literatura e cultura foi inaugurado no dia 05 de agosto de 2011. Localizado na Praça Antonino Xavier, em frente ao Hospital da Cidade, o quiosque, tem 96 m² e homenageia o escritor passo-fundense, Roberto Pirovano Zanatta, autor de três livros infantis e que faleceu em 2008, aos 10 anos.

O local também possui livros, revistas, jornais, empréstimo de livros e acesso a internet nos computadores ou pela rede wireless. São desenvolvidas ações como troca-troca de livros, atividades artísticas e de contação de histórias.  Para o ano de 2013, a programação prevista pelo Instituto Roberto Pirovano Zanatta, a ser desenvolvida em parceria com a Prefeitura, está bastante intensa, contemplando festas,  exposições, contações de histórias, campanhas, entre outras atividades.

A magia da contação de histórias
A primeira escola a agendar uma visita no Quiosque da Leitura no Largo da Literatura este ano foi a Escola Municipal de Educação Infantil Criança Feliz, do bairro Manoel Portela. Durante aproximadamente meia hora, a atenção das crianças foi exclusivamente para a contação da história de Chapeuzinho Amarelo, do autor Chico Buarque e ilustrações do Ziraldo. Uma obra clássica da literatura infantil brasileira. A história é uma releitura do clássico Chapeuzinho Vermelho. Mas nesta obra de Chico Buarque, Chapeuzinho tem medo de tudo, uma menina que era amarelada de medo, mas que no final consegue superar suas fobias. Enquanto a monitora do quiosque, Fernanda Lopes, contava entusiasmada a história, a pequena Ingrid Gabrieli Severo, de 5 anos, nem piscava. “Ela tinha medo de tudo e nem dormia com medo de pesadelo. Depois que ela viu o lobo não teve mais medo porque o lobo virou bolo”, relatou Ingrid.

A história preferida de Ingrid é a do Clifford, O cachorrão vermelho, de Norman Bridwell. “Gosto muito da história do cachorro gigante. Antes de dormir minha mãe sempre conta uma história pra mim”, revelou Ingrid.
A contação de história encanta tanto os alunos que estão escutando quanto a monitora que está apresentando. A monitora Fernanda, de 24 anos, contou que esta é uma maneira de plantar a semente para formar futuros leitores. “A literatura influencia o ser humano e é uma agente de transformação. Ela expande o nosso olhar, o nosso mundo e a nossa criatividade”, salientou a monitora do quiosque.

Fernanda é acadêmica do curso de Letras e a paixão dela pelos livros começou quando ela tinha cerca de seis anos. Hoje ela é uma incentivadora da literatura. “Minha prô me apresentou o livro do Menino Maluquinho e assim ela despertou essa minha paixão pela leitura. Espero despertar da mesma forma em outras crianças”, disse a monitora.
A professora do pré II da Escola Criança Feliz, Adinara Bonamigo, explicou que a visita ao quiosque faz parte das atividades de um projeto desenvolvido na escolinha chamado Brincando com Letrinhas. “O quiosque é um espaço adequado de contato com os livros e promove um encontro com o letramento de forma divertida”, enfatizou a professora.

A funcionária do quiosque, a professora Josemir Ferreira, disse que a contação de história é muito importante no desenvolvimento destas crianças. “Desperta o interesse delas pela leitura, ajuda na criatividade, na dicção e na comunicação”, disse Josemir.

“Este espaço é maravilhoso”
A professora aposentada, Lilian Cardoso, reside em Santa Maria, e quando vem a Passo Fundo costuma levar o neto Samuel, de 4 anos, ao Quiosque Roberto Pirovano Zanatta. “Que bom se todas as cidades tivessem um lugar como esse. É importante que as crianças tenham este contato com os livros para que adquiram o gosto pela leitura”, declarou Lilian.