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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Incêndio devastador em biblioteca russa é “Chernobil” cultural

Cerca de dois milhões de documentos terão sido destruídos, de registos parlamentares dos EUA, Reino Unido e Itália a documentos da ONU e colecções eslavas.
Perto de dois milhões de documentos potencialmente destruídos em cerca de 24 horas de chamas. Um incêndio devastou dois mil metros quadrados do Instituto Académico de Informação Científica de Ciências Sociais em Moscovo, que alberga mais de dez milhões de documentos únicos coligidos desde o século XVI, originários da Rússia, mas também do Reino Unido, Itália e EUA. A destruição numa das maiores bibliotecas universitárias do país é como “Chernobil”, disse o presidente da Academia de Ciências Russa.
“É uma grande perda para a ciência”, disse Vladimir Fortov às agências de notícias russas, citado pela AFP. “Esta é a maior colecção do seu género no mundo, provavelmente equivalente à [da] Biblioteca do Congresso” norte-americano, lamentou. “Há aqui documentos que são impossíveis de encontrar em qualquer outra parte, todas as ciências sociais usam esta biblioteca. O que aconteceu aqui faz lembrar Chernobil.”

Criada em 1918, a biblioteca alberga uma das mais completas colecções de obras em línguas eslavas e, de acordo com o Wall Street Journal, também inclui importantes documentos históricos relacionados com as Nações Unidas. Há ainda documentos da Liga das Nações e da UNESCO, bem como textos parlamentares norte-americanos, britânicos e italianos que remontam aos séculos XVIII e XIX. Diferentes fontes citam a colecção como tendo entre dez e 14,2 milhões de documentos.
Vladimir Fortov, presidente da Academia de Ciências Russa, estima que 15% da colecção da biblioteca académica tenha sido destruída no incêndio que deflagrou cerca das 22h de sexta-feira no terceiro andar do INION (na sigla original) e, de acordo com o Ministério de Emergências, citado pelo canal de televisão estatal Russia Today (RT), foi declarado extinto pelas 23h24 de sábado. Não há feridos.
Terá sido a água usada pelos cerca de 200 bombeiros que combateram as chamas a principal causadora dos danos e destruição de documentos, e na manhã deste domingo continuava a ser despejada sobre os escombros para evitar reacendimentos.
O director do INION, Yuri Pivovarov, que esteve no local com Fortov para avaliar os danos, não hesitou em classificar o sucedido como uma “tragédia”, visto que, como cita a RT, a maior parte dos documentos ali guardados não tinha sido digitalizada. Ainda assim, muitos livros e documentos salvaram-se por estarem sobretudo arquivados na cave e no primeiro andar do edifício. Apesar de danificados pela água. “Graças à tecnologia moderna, é possível salvar os livros” que tenham sido molhados, acredita Pivarov.
O responsável pelo instituto disse ainda, citado pela RT, que a comunidade científica internacional já o abordou para apoiar a recuperação, embora estime que sejam necessários anos para as necessidades de “reconstrução total” do INION – ali trabalham 330 pessoas e estão inscritos 49 mil leitores.
A investigação para apurar as causas do incêndio ainda decorre, mas osmedia russos indicam que as primeiras suspeitas apontam para um curto-circuito, de acordo com a AFP. A RT menciona ainda a possibilidade de fogo posto e acrescenta que uma inspecção recente à biblioteca mostrava, segundo o Ministério de Emergências, sete violações de segurança que teriam de ser reparadas até 30 de Janeiro. 
Fonte: www.publico.pt em 01.02.2015

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Manuscritos antigos da Biblioteca Estatal são digitalizados

Enquanto as bibliotecas nacionais aderem ao projeto de digitalização dos livros mais valiosos dos seus arquivos, a Gazeta Russa visitou o centro de digitalização da Biblioteca Estatal da Rússia para acompanhar o renascimento das obras dos clássicos literários. 
A iniciativa tomada pela Biblioteca Estatal da Rússia em meados da década de 2000 deu origem ao projeto de Biblioteca Nacional Digital, criado com o objetivo de imortalizar com a ajuda de tecnologias modernas obras da literatura publicadas até o ano de 1831. Tatiana Garkuchova, funcionária do centro de digitalização, monstra na tela do seu computador as páginas escaneadas de livros arcaicos, como o Evangelho de Arkhanguelsk, publicado em 1092, a quarta obra mais antiga de todos os famosos manuscritos do leste europeu, e Octoecos (coletânea de cânticos religiosos da Igreja Ortodoxa), que saiu da oficina de impressão da cidade de Cracóvia em 1491 e é considerado um dos primeiros livros escritos no alfabeto cirílico.
Foto: Anton Tchúrotchkin
Apesar do valor estimado em milhões de dólares, a obra é uma propriedade estatal, portanto não pode ser comprada ou vendida.
"Anteriormente, os livros desta categoria podiam ser emprestados apenas mediante a apresentação de uma autorização especial e somente às equipes de pesquisa renomadas", explica Tatiana.
Mas o projeto de digitalização já garante o acesso ao seu conteúdo a todos os interessados através do site oficial da Biblioteca Digital.
Passado digitalizado
"A seleção dos livros raros da Biblioteca Estatal inclui cerca de 300 unidades, nove dos quais já receberam as suas versões eletrônicas", conta Tatiana, que comemora o apoio do Ministério de Cultura recentemente recebido pelo projeto da Biblioteca Nacional Digital, cuja lista de participantes também continua se ampliando.
Apesar da crescente expansão dos meios digitais de conservação do patrimônio cultural, o tradicional papel ainda não se rendeu às novidades tecnológicas.
Foto: Anton Tchúrotchkin
"O projeto de digitalização de livros visa disponibilizar o seu conteúdo ao público em geral, além de neutralizar possíveis danos causados pelos métodos usados nas suas respectivas épocas, tais como a tinta à base de zinco comum no século 19 e que, ao passar dos anos, penetra no papel e aparece no seu verso,  impossibilitando a leitura do texto escrito em ambos os lados da folha", explica Roman Kurbatov.
"Vale ressaltar que os livros mais antigos e caros são também os mais bem conservados. A sua importância e valor permitiram que eles fossem guardados em condições especiais e fossem pouco manuseados. Já encontramos uma obra de François Rabelais publicada em vida na década de 30 do século 16, cujo estado supera ao das obras que saíram das editoras em meados do século 19", conta Roman.
Foto: Anton Tchúrotchkin
Para que os livros não sejam danificados, o processo de digitalização conta com uma série de cuidados. Por exemplo, cada obra é escaneada dentro de um leito ajustado conforme o seu formato e grossura por uma máquina do tamanho correspondente, cuja luz não prejudica a tinta ou o papel. Existem os aparelhos digitalizadores para livros de todos os tamanhos, inclusive para as unidades do formato A0 com dimensões 33,1 x 46,8 polegadas.
Tecnologias espaciais e obras de Leonardo da Vinci
Os livros grandes ou de formatos incomuns, como feitos sob encomenda, atlas, álbuns e folhas gráficas, são processados pelo digitalizador Metis Systems, elaborado por antigos colaboradores do Departamento de Aeronáutica e Astronáutica da Universidade de Tecnologia de Massachusetts, cuja capacidade permite digitalizar obras de até 50 quilos e 20 polegadas de espessura. Há pouco tempo, o aparelho transformou em arquivos eletrônicos o livro “Codex Atlânticus”, manuscrito de Leonardo da Vinci de 1119 páginas.
Foto: Anton Tchúrotchkin
O site da Biblioteca Estatal da Rússia garante o acesso livre às cópias digitais de uma série de livros que inclui o calendário pessoal de bolso do imperador Pavel 1º, o Evangelho datado de meados do século 17obras do século 16 da oficina de impressão de Francysk Skaryna de Praga, entre outros, assim como permite baixá-los em formado pdf ou lê-los no  iPad. A alta qualidade da digitalização preserva os mínimos detalhes dos textos e de seus enfeites, assim como gravuras e ex-líbrises que indicam a pertinência do item.
A facilidade de acesso, no entanto, não seria capaz de compensar a sensação gerada pelo contato com a obra antiga.
Manuscritos antigos da Biblioteca Estatal são digitalizados  
Foto: Anton Tchúrotchkin
"Durante o processo de digitalização da famosa biblioteca de Menachem Mendel Schneerson, encontramos entre as folhas alguns objetos interessantes usados como marcadores de paginas, tais como penas de ganso, fios de cabelo, correntes, dinheiro e bilhetes pessoais", explica Roman. 
Fonte: http://br.rbth.com/ em 15.11.2014