terça-feira, 18 de setembro de 2012

ESPAÇOS POUCO CONHECIDOS GUARDAM ACERVO RARO E CURIOSO NO RIO

Museu da Pediatria, no Cosme Velho, reúne centenas de equipamentos, móveis, documentos, fotos e livros

RIO - Houve um tempo em que retirar as amígdalas das crianças era quase uma sessão de tortura: o médico, com ajuda de enfermeiros, sentava o pequeno numa cadeira de madeira, onde ele era amarrado e sedado com a maquininha de inalação de éter, antes de ser submetido ao procedimento médico. Até a década de 50, o uso da tal cadeirinha era comum, mas hoje, felizmente, ela virou peça de colecionador.

Um raro exemplar, doado por um hospital infantil de Recife, é uma das curiosidades expostas no Museu da Pediatria, no Cosme Velho, que reúne outras centenas de equipamentos, móveis, documentos, fotos e livros que ajudam a contar a história da especialidade no Brasil. Junto com o Museu da Justiça, o da Polícia Militar, da Cadeira e o do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o pequeno memorial, criado em 2004, integra uma lista de casas com acervo curioso ou desconhecido, ainda pouco visitadas.

Os interessados em seguir o roteiro de “museus que pouca gente conhece” encontram farto material nas ruas do Rio. No Centro, o passeio pode começar pelo Museu da Justiça, na Rua Dom Manuel 28. O prédio de estilo neoclássico — construído em 1926 para abrigar o Poder Judiciário — já vale uma visita. Pelos corredores e salas do antigo Palácio da Justiça, há esculturas, vitrais e pinturas, como as duas que representam “A Justiça Civil” e “A Justiça Criminal”, pintadas por Carlos Oswald. Entre as salas abertas ao público, a do Tribunal do Júri é uma das que mais impressionam. Usada até 2009, ali foram realizados julgamentos de casos que causaram comoção, como os assassinatos de Cláudia Lessin Rodrigues e da atriz Daniela Perez.

Visitas devem ser marcadas (3133-3532). A média de público é de 200 pessoas por mês. A entrada é grátis.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

BIBLIOTECA RECEBE PROJETO DE INCENTIVO A LEITURA


A Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul realiza na quarta-feira (19), na Biblioteca Pública Estadual Dr. Isaías Paim, às 13h30min, o projeto “Vem ler o mundo com todas as letras”, em homenagem ao Dia do Teatro. Na ocasião haverá a apresentação do espetáculo ”Palhashow”, da Cia das artes.

 A apresentação dirigida por Ramona Rodrigues reúne um repertório de entradas onde são apreciados os velhos truques e brincadeiras dos palhaços quando estão em cena no picadeiro. É fruto do trabalho desenvolvido nas "Oficinas de Teatro para Crianças" realizadas pela diretora. A biblioteca recepcionará alunos da rede pública de ensino, que após prestigiarem a apresentação teatral, participarão de atividades de incentivo à leitura desenvolvidas pela equipe da biblioteca.

 Projeto “Vem ler o mundo com todas as letras” contempla palestras, apresentações e entrevistas com artistas e produtores culturais de Mato Grosso do sul, oferecidos a alunos e professores de escolas públicas e outras instituições interessadas. É uma maneira de incentivar as diferentes formas de leitura, não importando o suporte em que ela esteja inserida.

Fonte da postagem.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

EM DEFESA DO PAPEL

 Apesar do crescente domínio do virtual entre os documentos corporativos, os papéis são um estímulo maior à organização e ao cumprimento de tarefas


O papel ainda tem sua importância. O frequente barulho das impressoras nos escritórios – apesar da internet, do Microsoft Word, das mídias sociais, scanners, aplicativos de smartphones e arquivos PDF – é uma prova disso. Podemos utilizá-lo menos que costumávamos, mas ler e escrever em papel cumpre uma função que, para muitos trabalhadores, uma tela não pode replicar.

O papel, segundo o especialista em produtividade David Allen, fica “na sua cara”. Sua presença física pode ser um estímulo para completar as tarefas, enquanto os arquivos no computador são fáceis de serem ocultados e esquecidos, disse ele. Alguns de seus clientes estão voltando ao planejamento com papel por esse exato motivo, acrescentou.
A necessidade do impresso

O papel, segundo Steve Leveen, cofundador e presidente da Levenger, “pode ser uma coisa agradável e bonita – do mesmo modo que apreciamos vinho e gastronomia, podemos apreciar a tinta e o que ela faz por nós”.

O papel nos lembra que “somos seres físicos, apesar de termos de lidar com um mundo cada vez mais virtual”, ele disse. As pessoas reclamam que escrever à mão é demorado, mas isso pode ser algo bom para o pensamento e a criação, segundo ele: “Porque nos faz ir mais devagar, para pensar, contemplar, revisar e refazer”.

As canetas para computador, chamadas stylus, também podem “forçar você a pensar com mais cuidado nas palavras que está usando e como você planeja o que irá dizer”, disse Harper. Mas, segundo ele, um stylus não é capaz de substituir a experiência física de levar a caneta de verdade ao papel.

O stylus, bem como as telas de computador, tem a vantagem de cortar o uso desnecessário de papel. E isso é uma boa notícia para as árvores.

Como uma nação, “nós estamos fazendo mais com menos papel e reciclando mais daquilo que utilizamos”, disse Joel Makower, presidente e editor executivo do Grupo GreenBiz, que visa auxiliar empresários a se tornarem mais responsáveis com o meio ambiente.

Makower não escreve muito em papel porque tem problemas para ler sua própria caligrafia. E ele é mais organizado com seus arquivos no computador do que com papel.

“Eu não sei onde pôr as coisas no mundo real”, disse ele, “mas eu sei exatamente onde pô-las no computador”.

Mas ele diz que sabe que algumas pessoas são o oposto disso e que ainda há espaço para o papel no escritório. Embora conduza a maior parte de sua pesquisa digitalmente, ele ainda imprime o seu relatório do Estado das Empresas Verdes – que neste ano tem mais de 80 páginas – para seu grupo revisar.

“Eu consigo trabalhar muito bem no computador, mas existe algo no ato de fazer a leitura numa cópia impressa”, segundo Makower, que, para ele, facilita para entender melhor o que se está lendo.
Contemplação

O cofundador e presidente da Levenger, empresa norte-americana de materiais para escritório e organização em geral, Steve Leveen acredita que a tecnologia digital é melhor para socializar e compartilhar, enquanto o papel é melhor para a contemplação em silêncio.

Allen, autor de A arte de fazer acontecer, escreve boa parte de seus textos no computador, mas ainda há vezes em que escrever com uma caneta-tinteiro num bloco de notas lhe permite “pôr a cabeça no lugar”, ele disse.

Cópias impressas também cumprem uma função importante, segundo ele. Para textos longos, o papel pode ajudar um leitor a compreender melhor a relação entre as seções do texto. E handouts de papel (folhetos com material informativo) ainda estão presentes em reuniões em parte porque também são úteis para se fazer anotações.

Ler um documento longo no papel, em vez da tela de um computador, auxilia as pessoas a “compreenderem melhor a geografia dos argumentos apresentados”, disse Richard H. R. Harper, um dos principais pesquisadores para a Microsoft de Cambridge, na Inglaterra, e coautor de O mito do escritório sem papel, publicado em 2001.

Os trabalhadores de hoje muitas vezes lidam com múltiplos objetos de maneiras complexas e criam novos documentos também, segundo Harper. Usar mais de uma tela de computador pode ser útil para esse malabarismo cognitivo. Mas, quando os trabalhadores ficam indo e voltando entre pontos diferentes de um documento mais longo, pode ser que seja mais eficaz lê-lo em papel, ele disse.

Um estudo publicado em 1997 demonstrou que a compreensão das pessoas é superior quando leem os textos no papel em vez de on-line, disse Harper. Essa descoberta, é claro, não leva em consideração as vastas melhorias na tecnologia por trás dos monitores que ocorreram desde então, dentre elas, a invenção dos leitores de livros digitais (e-books).

Harper pesquisa leitores de livros digitais, usados agora predominantemente para leituras por prazer. No futuro, os funcionários de escritório poderão fazer maior uso desses leitores “junto de outros aparelhos para leitura e criação, e isso acrescentará mais itens aos acessórios colaterais ao monitor espalhados sobre a mesa”, sem que a leitura se torne necessariamente mais eficaz, segundo ele.

Steve Leveen, cofundador e presidente da Levenger, mantém sua posição de que a tecnologia digital é melhor para socializar e compartilhar, enquanto o papel é melhor para a contemplação em silêncio. Sua empresa está envolvida no projeto de promover o papel como uma experiência estética, oferecendo cadernos, diários e canetas de maior qualidade, mesmo enquanto expande suas atividades para incluir a venda de itens como mesas de laptop e capas para smartphones.

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ZOARA FAILLA: “SE O PROFESSOR NÃO É LEITOR, NÃO CONSEGUE TRANSMITIR O PRAZER PELA LEITURA”

Os professores são os principais influenciadores nos hábitos de leitura dos brasileiros. Mas há indícios de que, no seu tempo livre, eles raramente abrem um livro, assim como a maioria dos brasileiros. O dado está no livro Retratos da Leitura do Brasil 3, que foi lançado durante a Bienal do Livro de São Paulo, no último mês. A obra analisa a pesquisa de mesmo nome feita pelo Instituto Pró-Livro, sob organização da socióloga Zoara Failla.

Ela diz que a amostra de professores ouvidos em 2011 – apenas 145, entre cerca de 5.000 entrevistados de todo o Brasil – é pequena, mas o resultado surpreendeu. Apenas três docentes disseram que gostam de ler no tempo livre. Ao serem questionados sobre títulos preferidos, eles citaram os de autoajuda e religiosos.

O Brasil ainda não é um país de leitores. Cerca de 50% da população não lê, quantidade maior do que a verificada em 2007, quando 55% se diziam leitores. Mas é preciso considerar que houve algumas mudanças na forma de conduzir as entrevistas entre uma edição e outra do estudo. O que mais afasta os brasileiros da leitura não é o preço dos livros ou a dificuldade de acesso e, sim, a falta de interesse. Por isso, a atuação de bons “professores-leitores” é estratégica.

“Se o professor for um bom ‘marketeiro’ dos livros, ele consegue despertar o interesse dos alunos”, diz Zoara Failla. Em entrevista a ÉPOCA, a pesquisadora fala sobre os hábitos de leitura de quem ensina e de quem aprende.

ÉPOCA - Qual é o perfil dos professores ouvidos na pesquisa?

Zoara Failla - É muito parecido com o dos demais entrevistados. A gente imaginava que, sendo educador, fosse haver um indicador melhor de leitura, de indicação de literatura, de clássicos, diferente da população como um todo. É uma amostra pequena, a gente não pode generalizar, mas é um indício. No seu tempo livre, eles preferem a televisão e as redes sociais.

ÉPOCA - O que afasta o professor da leitura?

Zoara - Temos problemas na formação desse professor. São as universidades. Quem está formando esse professor não está desenvolvendo esse interesse e apresentando a leitura não só como forma de atualização, mas como forma de lazer. Temos problemas também com tempo de trabalho. Muitos [professores] têm uma carga excessiva. Além disso, a maioria tem familiares de escolaridade não muito privilegiada. Há problemas de acesso. Boa parte das escolas tem bibliotecas, mas elas estão com acervos desatualizados, têm poucos livros. E, pelos salários baixos, os professores têm dificuldades para comprar obras.

ÉPOCA - O professor aparece na pesquisa como um dos maiores influenciadores do hábito da leitura dos brasileiros. Se ele não gosta de ler, como pode cativar os alunos?

Zoara - Isso é um dos principais problemas. A escola é um espaço privilegiado para formar leitores. Tanto que a gente percebe, pela pesquisa, que eles [os jovens] leem mais quando estão na escola. Depois que saem, deixam de ler porque não foram despertados para isso. Se o professor não é um leitor, não consegue transmitir esse prazer pela leitura e conquistar os alunos. Não tem repertório para indicar. Quando você tem uma conexão com os livros, consegue despertar emoções no outro. O bom leitor interpreta, fala sobre os personagens, cita frases e faz quase um marketing dos livros. Se o professor for um bom “marketeiro” dos livros, ele consegue atrair o interesse dos alunos.

ÉPOCA - É comum que a leitura nas escolas vire apenas uma atividade obrigatória. O professor tem que indicar obras clássicas que nem sempre são do gosto dos jovens. Como, então, despertá-los para a leitura por prazer?

Zoara - Sim, a leitura pode virar uma tarefa feita apenas para responder um questionário frio, que pergunta a escola literária, a época em que o autor viveu. Você massacra a obra de arte. Às vezes, o professor obriga uma leitura que não é adequada para uma faixa etária. Machado de Assis é maravilhoso, mas uma criança não vai ter condições de apreender aquele universo. Se você apresenta à garotada uma narrativa que tenha a ver com o momento dela, vai despertar interesse.

É preciso dar opções de escolhas. Mesmo entre os clássicos, há várias possibilidades. Infelizmente, o ensino médio está preso também aos vestibulares. Mas você pode deixar o momento mais interessante, com contação de história daquele romance ou rodas de leitura. Você pode fazer integração com outras disciplinas, facilitando a leitura, na medida em que a contextualiza.

ÉPOCA - O que fazer para melhorar as taxas de leitura entre os professores?

Zoara - É preciso rever o currículo da formação dos professores nas universidades. Para os que saíram da escola, a alternativa é a formação continuada, cursos de especialização. É um grande desafio para os educadores pensar em como fazer com que pessoas adultas descubram os livros e o prazer de ler.

ÉPOCA - Muitos brasileiros dizem não gostar de ler. Isso pode estar relacionado a dificuldades de leitura?

Zoara - Avaliações internacionais, como o Pisa, mostram que cerca 30% dos brasileiros não têm compreensão leitora. Se não têm a possibilidade de compreender um pequeno texto, não vão gostar de livros. Primeiro, temos que resolver essa questão, que é essencial: o letramento. Segundo a pesquisa [do Instituto Pró-Livro], 50% dos brasileiros não são leitores, ou seja, não leram nenhum livro nos últimos três meses. Desses, 30% não são leitores porque a escola não os capacitou para a leitura. Portanto, temos 20% de brasileiros que dominam a leitura, mas não gostam de ler.

ÉPOCA - Por que mesmo crianças pequenas têm dito que não gostam de ler?

Zoara - A criança fica fascinada com contação de história, quer que repita a mesma história muitas vezes. Mas nós temos que desenvolver esse interesse. É preciso ler para criança, ler na frente dela, dar livros de presente. São formas de conquistá-la, de mostrar que a leitura tem valor. Será que alguém nasce gostando de futebol no Brasil? Gostam porque isso é valorizado.

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